Conto
por Enzo Carlo Barrocco
Ninguém
sabia por que Domício construiu a casa da família exatamente na curva da
estrada que dá para o Porto dos Coqueiros, uma curva até certo ponto acentuada
numa estrada de mão dupla; um carro que viesse no sentido Vila / Porto e
perdesse o controle, certamente atingiria a residência o que causaria um
prejuízo muito grande. O terreno de Domício, cujo limite dava na estrada, não
era pequeno e tinha, pelos menos, uns quatro quilômetros quadrados, sendo que
um dos lados se perdia na mata que protegia o igarapé que atravessava a propriedade.
Muitos veículos passavam na estrada dia e noite, principalmente caminhões,
carretas e pesadas caçambas que levavam material para despacho no concorrido
porto. O próprio Domício contava aos conhecidos que, à noite, os veículos
pesados transitavam apressadamente de um lado para o outro. Percebia-se que
Domício não se preocupava com essa situação, embora na casa vivesse ele, a
esposa e os quatro filhos homens entre 03 e 16 anos, sendo que aquele barulho
não causava mais comoção à família.
Certa
manhã, a pequena população da Vila Cerqueira, há cinco quilômetros, acordara
com a notícia que um caminhão-baú, carregado de caixas de sabão em pó, perdera
a direção, já que o motorista havia cochilado, e chocou-se contra a casa na
Curva do Domício, como já era conhecida, colocando preocupação nos moradores. A
verdade que se constatou, em seguida, foi que o veículo que capotou várias
vezes, apenas arrancou um dos mourões que sustentava a puxada que servia de
segunda cozinha que Domício havia construído há um mês. O motorista? Colegas que passaram em seguida, o
levaram para a enfermaria do porto.
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