quarta-feira, 26 de junho de 2013

HAI-KAIS - 26ª TRÍADE

Enzo Carlo Barrocco



A noite avança,
estrelas num céu aberto –
brisa e vaga-lumes.

***

As fileiras retas
dos eitos do milharal,
os pardais atentos.

***

A tarde acaba  -
uma noite muito fria
sobre os caminhos. 


sexta-feira, 7 de junho de 2013

MORMAÇO E IGAPÓ


Enzo Carlo Barrocco






















Os troncos caídos
no caos disposto
da mata
dá um contorno exuberante.
Uma enorme borboleta azul-ferrete
passa bailando para os lados do rio;
um silêncio flexível se apodera
de tudo.

É meio-dia, ou um pouco mais,
animais e homens
partilham mormaço e igapó.




terça-feira, 4 de junho de 2013

FRANCISCO MIGUEL DE MOURA: O CRIADOR E A CRIA


Francisco Miguel de Moura, poeta, ensaísta, cronista, romancista e crítico literário, piauiense de Francisco Santos, no convés da fragata desde 1933 é um dos bons escritores nordestinos a ultrapassar a linha da notoriedade. O escritor pertence à Academia Piauiense de Letras e é autor de inúmeros livros de poesias, ensaios, crônicas, antologias e romances tendo diversos textos espalhados pela grande rede. Exímio contista, como em todos os outros gêneros, Francisco continua  no seu ofício, blindando seus leitores com excelentes trabalhos.
















O remédio de menino esperto

Xamelego come as unhas, arranca os botões da camisa, corre pela casa atrás das galinhas, entra e sai... Chamego de menino impossível. Naquela manhã quase não escapa de uma pisa.
Zeca precisa ir dar aula. D. Mariinha quer começar seus artesanatos: surrões, vassouras, esteiras, abanadores, cofos, urupembas, com que ajuda na renda da família.
Os dois estão impacientes. Além de outras necessidades, faltara o café da manhã. Café sem açúcar é uma tortura. Quem suporta? É melhor ficar em jejum.
– E cadê a rapadura?
– Tava ali.
– Ali aonde?
Aponta com o dedo e com o beiço:
– Na telha.
– Quem já viu esconder rapadura na telha? O rato vem e come.
– Rato é lá besta. Ele pensa que tem veneno. Há muito tempo que eles não vêm por aqui.
– E por que não guarda em outro lugar? Isto é uma loucura...
– Loucura é colocar em qualquer canto. Escondendo no mais difícil como eu escondo, ele ainda acha. Ora, ora!...
– Ele, quem?
– Ora quem, Xamelego.
– Chamou ele às favas?
– Chamei na hora: –X amelego, meu filho, vem cá. Você está comendo o doce do café? Como se pode tomar café amargo? Você não tem juízo, menino. Tem?
– Não.
– Não, o quê?
– Não sei de rapadura, não fui eu.
– E quem foi?
– E eu sei!?
– Fale a verdade.
– Tou falando...
– Não está.
– Então, foi o rato.
– Ah, e este cheiro na tua boca? Te peguei, moleque, com a boca na botija. Tu vais apanhar. Vou dizer a teu pai.

Aos dois ocorreu uma lembrança boa (e má). Do tempo do vício do menino, quando ficou amarelo, amarelo, e foi preciso tomar remédio de botica. Zequinha pensa e calcula: não há mais dinheiro, nem o dono da venda vai lhe fiar mais nada, tem certeza. Quanto mais o da botica.
Ele e a mulher entraram para o quarto com as mãos na cabeça, sem saber o que fazer para que o menino deixe este outro vício. Estão agastados porque, além de não terem mais isca, o café foi amargo, sem doce nenhum, tudo por conta do Xamelego.
Zeca disse:
– Vou ali no quintal e volto já.
Saiu com uma faca amolada na mão, seu jeito era de muita raiva. Xamelego nunca o tinha visto com aquela cara. Maria ficou se benzendo. Rezando. Pedia a Deus que os dois não se encontrassem.
Dali a pouco, Zeca entra. Com o menino nem falou nada. Bastou olhar. Era como se dissesse: “Saia!” E o moleque saiu.
Zequinha entregou a mulher uma folha de babosa, ainda escorrendo o líquido.
–Tome Mariinha, agora obrigue seu filho a não se lavar, não se banhar nunca. Ou pelo menos por uns dias. Quando ele estiver dormindo você lambuza isto nas mãos dele, nas duas. Agora, a rapadura que a gente tem que comprar deve ser líquida. Mel. Quando ele for comer, vai se lambuzar também. E vai se arrepender. Enquanto isto, nós vamos jejuar nosso café por uma semana.
Depois dessa decisão, Zequinha sai para trabalhar. Leva consigo, escondido, um meio sorriso. Graças a Deus.
Daquele dia em diante Xamelego deixou de roer as unhas. E dona Maria também nunca mais teve que se queixar à vizinha da “esperteza” do filho.
Nunca mais.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

LANÇAMENTO DO LIVRO PAISAGEM AMAZÔNICA E OUTRAS PAISAGENS

ESTE É O MEU LIVRO "PAISAGEM AMAZÔNICA E OUTRAS PAISAGENS" PUBLICADO ARTESANALMENTE, COM SONETOS E POEMAS LIVRES.

PREÇO: R$ 15,00
98 PAGINAS
ENCOMENDE UM EXEMPLAR PELO E-MAIL:
efraimpinheiro@hotmail.com



















COMENTÁRIO DO POETA NICODEMOS FIG SOBRE O LIVRO

O POETA DIVERSO

O poeta Enzo Carlo Barrocco, depois de alguns anos de produção literária, resolveu publicar artesanalmente seus poemas que tendem para realidade amazônica, embora não tenha se distanciado de outros assuntos. Dentro da poesia, os escritos deste poeta paraense alcançam outras vertentes, embora não estejam incluídas neste livro. A trova, o hai-kai, o poetrix, a microtrova entre outros, são gêneros que o poeta busca em seu incessante embate com a palavra escrita. Em “Paisagem Amazônica e Outras Paisagens”, o leitor tem a oportunidade de entrar em contato com os sonetos e os poemas livres que são gêneros especialíssimos dentro do contexto poesia deste vasto campo chamado literatura.


Nicodemos Fig
Poeta e Tradutor

CIO


Enzo Carlo Barrocco


Olha-se
nua, inquieta,
égua branca no cio,
inquieta;
a imagem lhe salta à frente
do espelho;
longos dedos no rego semiglabro 

Verga-se à frente, afasta as pernas,
vulva inquieta,
afaga a lingüeta carmim. 
- sépala viscosa.
O suco ensopa o dedo;
magma hormonal inundando a cava.

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...