sexta-feira, 21 de maio de 2010

UM CONTISTA EM OLAVO BILAC


Poeta da mais fina estirpe, um dos três maiores poetas parnasianos brasileiros, Bilac também everedou pelo caminhos da prosa. O conto burlesco fluía muito bem sob a pena de um dos nossos grandes escritores.



OS ÓCULOS

Olavo Bilac

O velho e austero doutor Ximenes, um dos mais sábios professores da Faculdade, tem uma espinhosa missão a cumprir junto da pálida e formosa Clarice... Vai examiná-la: vai dizer qual a razão da sua fraqueza, qual a origem daquele depauperamento, daquela triste agonia de flor que murcha e se estiola.
A bela Clarice!... É casada há seis meses com o gordo João Paineiras, o conhecido corretor de fundos, - o João dos óculos -, como o chamam na Praça por causa daqueles grossos e pesados óculos de ouro que nunca deixam o seu forte nariz de ventas cabeludas. Há seis meses ela mingua, e emagrece, e tem na face a cor da cera das promessas de igreja - a bela Clarice. E - ó espanto! - quanto mais fraca vai ficando ela, mais forte vai ficando ele, o João dos óculos, - um latagão que vende saúde aos quilos. Assusta-se a família da moça. Ele, com seu imenso sorriso, vai dizendo que não sabe... que não compreende... porque, enfim, - que diabo! - se a culpa fosse sua, ele também estaria na espinha...
E é o velho e austero Dr. Ximenes, um dos mais sábios professores da Faculdade, um poço de ciência e discrição, quem vai esclarecer o mistério. Na sala, a família ansiosa espia com rancor a gorda face do João impassível. E na alcova, demorado e minucioso exame continua.
Já o velho doutor, com a cabeça encanecida sobre a pele nua do peito da enferma, auscultou longamente os seus pulmões delicados: já, levemente apertando entre os dedos aquele punho macio e branco, tateou o pulso, tênue como um fio de seda... Agora, com o olhar arguto, percorre a pele da bela Clarice - branca e cheirosa pele - o colo, a cinta, o resto... De repente - que é aquilo que o velho e austero doutor percebe na pele, abaixo... abaixo... abaixo do ventre?... Leves escoriações, quase imperceptíveis arranhaduras avultam aqui e ali vagamente... nas coxas...
O velho e austero doutor Ximenes funga uma pitada, coça a calva, olha fixamente os olhos da sua doente, toda alvoroçada de pudor:
- Isto que é, filha? Pulgas? Unhas de gato?
E a bela Clarice, toda de confusão, enrolando-se no penteador de musselina como n'uma nuvem, balbucia, corando:
- Não! Não é nada... não sei... isto é... talvez seja dos óculos do João...


quinta-feira, 20 de maio de 2010

LUAS DE AJURUREUA - CANTO Nº 7

Enzo Carlo Barrocco


OS PROMESSEIROS DA BR
Os caboclos vêm de longe
há dias andando a pé,
reforçando suas crenças
na Virgem de Nazaré


ALAGAMENTOS
Quando chove na cidade
acompanham os sofrimentos,
cada vez que a água desce
abundam os alagamentos.


A MORTE DO 3º AMIGO
Cesário morreu depressa,
doente desde menino;
diagnóstico médico:
câncer no intestino.


AS PRAIAS DE MACEIÓ
A capital nordestina,
uma cidade maior!
Que saudades, que saudades
das praias de Maceió!


CARTA GEOGRÁFICA
Um tempo de chuva e vento
e nessa noite tão fria
explorarei os relevos
da tua geografia.


quarta-feira, 19 de maio de 2010

ERNESTO CRUZ NA ESTANTE VIRTUAL

Livro: Procissão dos Séculos” (História)
Autor: Ernesto Cruz
Edição: Imprensa Oficial do Estado do Pará

Episódios da vida no Estado do Pará, revelando a arquitetura, as cidades, os costumes, as leituras e as personagens, deliciosamente narrados pelo historiador Ernesto Cruz (1898-1976).

terça-feira, 11 de maio de 2010

H. RIDER HAGGARD NA ESTANTE VIRTUAL

Livro: As Minas do Rei Salomão (Romance)
Autor: H. Rider Haggard
Edição: Hesdra Editora

A fascinante história de quatro aventureiros que se veem perdidos num território de nativos que habitam as terras do monarca bíblico, na versão traduzida pelo genial contista e romancista português Eça de Queiroz.


A POESIA AUSTRÍACA DE GEORG TRAKL


O POETA

Georg Trakl poeta austríaco (Salzburgo 1887 – Cracóvia, Polônia 1914), é um dos mais importantes nomes da poesia de língua alemã do século XX. O verso atormentado de Trakl é a sua principal característica. Ao longo de sua vida nutriu paixão incestuosa pela irmã. O poeta serviu no front em Grodek, durante a I Guerra Mundial, fato que o levou ao suicídio por overdose de cocaína, em 1914.





O POEMA


Na Primavera

Suave cede a neve aos passos escuros
À sombra da árvore

Erguem-se as róseas pálpebras dos amantes.

Aos obscuros chamados dos barqueiros seguem
Estrela e noite;
E os remos batem macio em sua cadência.

Logo florescem no muro arruinado

As violetas,
Surdamente verdeja a fronte do solitário.



quinta-feira, 6 de maio de 2010

PÉROLAS DE CARANANDUBA - CANTO Nº 7


Enzo Carlo Barrocco



CONFORTO
É que não existe na morte
nenhuma preparação,
traz, pois, em teu coração
algo bom que te conforte.


O FAROL DA ILHA RASA
O farol rompendo o frio,
a madrugada se posta,
a poucos metros da costa
um murmúrio de um navio.


ENCANTO
Quando trouxeres um tanto
de luz ao meu desalento
o breu que trago aqui dentro
se dissipará por encanto.


TROVA-PAISAGEM
Que paisagem exuberante!
as nuvens todas vermelhas,
o sol batendo nas telhas,
segue a tarde rutilante.


NÃO ESQUEÇAMOS NIEKRÁSSOV
A tristeza me consome,
traz-me inquietação
sentir ante ao meu portão
a face torpe da fome.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

A POESIA SUCINTA DE JOSÉ BEZERRA GOMES


O POETA


José Bezerra Gomes, poeta, romancista e ensaísta potiguar (Sítio Brejuí, Currais Novos 1911 – Natal 1982) concentrou a sua poesia na região do Seridó, no Rio Grande do Norte. As plantações de algodão e a própria cidade de Currais Novos foram as principais fontes para a sintética poesia deste escritor que é um dos mais importantes poetas potiguares do século XX.



O POESIA

CIRCO


Hoje hoje
grande estreia
do grande
Circo
Tom Mix

Adiado o
espetáculo...

O palhaço
fugiu..

Aviso ao
público...



ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...