sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

OS VENTOS DO RIO GRANDE – A RUA DA POESIA


Resenha


por Enzo Carlo Barrocco







Mario Quintana só publicou seu primeiro livro de poemas em 1940, quando já contava 34 anos, daí a poesia amadurecida, pronta e completa do livro “A Rua dos Cataventos” (Editora Globo, 1998, 122 páginas). Composto de 35 sonetos, o livro vai na contramão do propósito dos modernistas que queriam impor uma nova ordem na poesia brasileira a partir de 1922. A excelente repercussão do livro levaram alguns dos poemas a figurarem em manuais escolares, antologias e livros didáticos. Quintana é de um lirismo encantador e a sua métrica, ritmo e rimas são levados a mais pura forma. Todos os assuntos são, sem descriminação, abordados pelo poeta; desde a infância, o cotidiano, o inusitado, as paisagens, o amor, sempre dosados entre a ironia (quase que imperceptível), a melancolia e o humor – constante em seus poemas. Em “A Rua dos Cataventos” o poeta procura o seu próprio caminho, a sua própria identidade, não se importando com rótulos, modismos ou outras amarras literárias. Quintana é, simplesmente, o poeta que se compromete, apenas com ele próprio e a poesia. Nesse primeiro livro, Quintana se mostra um poeta puramente urbano, e essa característica é comprovada nos seus trabalhos posteriores. Portanto, “A Rua dos Cataventos” trouxe para a poesia brasileira a beleza, o humor, o lirismo deste poeta gaúcho que tudo fez para colocar a poesia brasileira no mais alto nível.


***


UM SONETO DO LIVRO “A RUA DOS CATAVENTOS”

SONETO - X


Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!

"Meu Deus! Mas tu não tu não mudas o programa!"
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
"Que tédio!" o coro dos Amigos clama.

"Mas que vos dar de novo e de imprevisto?"
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
"Eu sei chorar... eu sei sofrer... Só isto!"



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