terça-feira, 6 de janeiro de 2009

PAES LOUREIRO: O PÁSSARO AMAZÔNICO


João de Jesus Paes Loureiro, paraense de Abaetetuba, poeta, ensaísta e dramaturgo, no convés da fragata desde 1939, teve o rio Tocantins como a sua principal paisagem na infância e adolescência. O ambiente amazônico exerceu papel decisivo na formação do poeta. A literatura paraense hoje está excelentemente bem representada. O poeta é formado em Direito, Letras, Artes e Comunicação Social pela Universidade Federal do Pará e já esteve ocupando cargos na administração municipal de Belém, assim como no Secretariado Estadual do Pará. Paes Loureiro se vale do vasto, rico e abrangente universo amazônico para criar suas poesias. As lendas e os mitos da região também são enfocados no trabalho do poeta. Criatividade e originalidade são suas principais características. Durante o regime militar, devido suas experiências vanguardistas, o poeta foi, algumas vezes, perseguido, preso e até torturado. Paes Loureiro foi inúmeras vezes premiado tanto no teatro, quanto por seu trabalho na poesia. Sua láurea mais importante foi o Prêmio Jabuti, em 1998, pelo livro “Romance das Três Flautas ou Como a as Mulheres Perderam o Domínio sobre os Homens”. Paes Loureiro sabe muito bem do seu papel dentro da literatura amazônica e, nesse sentido, demonstra em sua obra uma paixão enorme por essa região. Festejemos Paes Loureiro, festejemos sua obra maravilhosa, poesias que falam da condição do povo e das coisas desta região. Obras Principais: Tarefa (1964); Cantigas de amar, de amor e de paz (1966); Epístolas e baladas (1968); Remo mágico (1975); Enchente amazônica (1976); Porantin (1979); Deslendário (1981); Pentacantos (1984); Cantares amazônicos (1985); O ser aberto (1987); Romance das três flautas ou de como as mulheres perderam o domínio sobre os homens (1987); O poeta Wang Wei (1988); Artesão das águas (1989); Iluminações/Iluminuras (1988); Altar em chamas e outros poemas (1989); Elementos de estética (1989); Cinco palavras amorosas à Virgem de Nazaré (1989); Tarefa (1989); "Cultura amazônica - uma poética do imaginário" (1991); Un Complainte pour Chico Mendes (1992); A poesia como encantaria da linguagem (1992); Altar em chamas (1992); Belém. O azul e o raro (1998); Pássaro da terra (1999). Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Loureiro:


O Poeta


Debruçado no poço

salmodia

e a própria voz escuta.

Osso.

atirado a si mesmo

(espelho)

por um cão faminto.



Fui Eu


Melancolia

Quem

(diante do sol e dos luares,

do olho no olho do mar e do infinito,

dos equinócios, das guerras

dos decretos,

da floração noturna das estrelas,

das epopeias do progresso, das quimeras

que ardem na lareira do desejo,

da súbita epifania da encantaria

submersa na linguagem-rio)

quem há de perceber em mim

(grão de poeira

na infinitamente azul ampulheta de Deus)

este botão de amor tombando no poema

depois que o abandonaste no meu peito?



Poema


As palavras arfando entre virilhas

entre lábios

cópulas de consoantes e vogais.

Saboreadas palavras

defloradas palavras

túmidas palavras

ávidas

oh! palavras

arfando umidamente entre pentelhos.

Suor. Calor. Odor. Linguagem. Gozo.


Nenhum comentário:

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...