terça-feira, 29 de maio de 2007

ROLANDO O NOSSO SOM


Boldrin: experiência e competência


por Enzo Carlo Barrocco

Certa feita perguntaram a Carlos Drummond de Andrade, poeta, contista e cronista mineiro (Itabira 1902 – Rio de Janeiro 1987) qual era, à época, o melhor programa da TV brasileira. Na sua simplicidade de poeta, Drummond se referiu ao programa Arte de Ver, Arte de Ouvir, produzido e levado ar pela TV Educativa do Rio de Janeiro, atual Rede Brasil, apresentado pelo radialista, cronista e jornalista fluminense Artur da Távola (Rio de Janeiro 1936), hoje senador da república. Arte de Ver, Arte de Ouvir, era um programa que mostrava a arte em geral em seus vários aspectos, como: a dança, as artes plásticas, a literatura e a música, principalmente, entre outras formas de arte. A propósito a única vez que vi o músico maranhense Turíbio Santos (São Luís 1943), um dos maiores nomes do violão erudito, foi nesse programa tocando a música “Sons de Carrilhões de autoria de João Teixeira Guimarães, o João Pernambuco (Jatobá, PE 1883 – Rio de Janeiro 1947). Hoje, caso fosse possível perguntar ao poeta qual ao melhor programa da televisão brasileira na atualidade, quem sabe ele responderia “Sr. Brasil”, programa da TV Cultura de São Paulo, dirigido e apresentado pelo ator, cantor, compositor e apresentador paulista Rolando Boldrin (São Joaquim da Barra 1936). Sr. Brasil é um programa essencialmente musical, onde se apresentam artistas que normalmente não aparecem nos chamados canais comerciais. A mídia ignora totalmente esses artistas que são a verdadeira base da cultura musical brasileira. Sr. Brasil é um programa feito nos mesmos moldes do antigo “Som Brasil”, da Rede Globo, levado ar entre 1981 e 1989 e apresentado, primeiramente, pelo próprio Boldrin, com algumas diferenças entre ambos, evidentemente. Boldrin recebe artistas de todos os gêneros musicais, artista consagrados e artistas iniciantes, mostrando a essência cultural da verdadeira música brasileira. Muitos grupos musicais, cantores, instrumentistas já passaram pelo palco do “Sr. Brasil” e, fico torcendo para que a TV cultura de São Paulo continue, por muitos anos, apresentando o programa. Eu sou um expectador incondicional deste programa que é uma excepcional colagem da nossa cultura musical. À bênção Rolando Boldrin! Ave, a verdadeira música brasileira!




ALCIDES WERK, O POETA DAS ÁGUAS



Alcides Werk
Aquidauana 1934 – Manaus 2003
Poeta sul-mato-grossense


ESTUDOS VI

O amargo deste sal que me alimenta
agora, eu mesmo o consegui catando
abismos nesse mar desconhecido
que o tempo me mostrou depois de mim.

Este sabor estranho de distância
que vivo a cada hora e que me envolve,
vem da vida que vi nessa voragem.
Sei, agora, que após a ronda inútil

por além dos limites do meu nada,
voltamos mais vazios, eu e o barco
que construí para guardar tesouros.

No regresso noturno, cumpro o gesto
de buscar o local, em cada porto
onde possa esconder um sonho morto.

BORBOLETAS DE MOIRABA - Canto nº 1





























































































sexta-feira, 25 de maio de 2007

CARPINEJAR: A POESIA QUE VEM DO RIO GRANDE



Fabrício Carpinejar
Caxias do Sul 1972
Poeta gaúcho


Primeira colina - poema 8


Reconheci a antigüidade do rosto
pela fumaça apressada do prado
- ela encorpava,
ardilosa,
uma cobra que endurece
o couro
na estocada da faca.

LINHA CURVA





















quinta-feira, 24 de maio de 2007

JIRAU DIVERSO Nº 3

JIRAU DI/VERSO
Nº 03 – Maio.2006
por Enzo Carlo Barrocco

A Poesia Acreana de Jorge Tufic
O POEMA

Voragem

Rostos que nunca vi, jacintos murchos
cujas sonatas frias me tocaram,
estes rostos não quero: eles são breves
no desfile das pálpebras cerradas.

Penso naqueles outros, familiares
rostos de toda vida. Cata-ventos
da rua ainda sem nome, alagadiço
porão da infância, arpejos e trigais,

dai-me a ver novamente ou mesmo em sonho,
estes semblantes nunca repetidos,
graves alguns, mas todos inseridos

na memória dos dias voluntários.
Cemitério, talvez, dessas lembranças,
todas, em mim, são rosas e crianças.

O POETA

Jorge Tufic, poeta, cronista, ensaísta e jornalista, acreano de Sena Madureira, no convés da fragata desde 1930, é um vigoroso poeta amazônico, que camba o seu discurso poético para o universo regional. Os anseios do homem amazônico dão cores a sua vibrante poesia. A partir do início da década de 90, fixou-se em Fortaleza – CE, dedicando-se exclusivamente à literatura. Sua estréia literária aconteceu em 1956, com a publicação de Varanda de Pássaros.
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Estante de Acrílico
Livros Sugestionáveis

Noites Brancas” (Novela)
Autor: Fiódor Dostoievski
Edição: Editora América do Sul Ltd.
O amor não correspondido entre um homem solitário e uma mulher apaixonada por outro homem. Uma história trivial, mas sob a perspectiva de Dostoievski ganha refino e sofisticação.

“Paris é uma Festa ” (Romance)
Autor: Ernest Hermingway
Edição: Editora Civilização Brasileira S.A.
A Paris entre os anos de 1921 e 1926, retratada sob o olhar aguçado de Hermingway. “Paris é uma Festa” é uma de suas obras menos conhecidas, no entanto, não menos interessante.

“Obras completas” (Poesias)
Autor: Rodrigues Pinajé
Edição: Cultural/Cejup
O Príncipe dos Poetas Paraenses e toda a sua obra reunida nesta antologia poética. Pinajé foi, e continua sendo, um dos nossos grandes poetas e merece toda e qualquer homenagem que possamos lhe prestar.

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A FRASE DI/VERSA

"Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males".
- François Marie Arouet, o Voltaire (Paris 1694 – Idem 1778) contista, romancista, dramaturgo e filósofo francês




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DA LAVRA MINHA

GEOMETRIA



terça-feira, 22 de maio de 2007

SOLIDÃO DE TUDO




LEDO IVO E A POESIA DAS ALAGOAS


Ledo Ivo
Maceió 1924
poeta, contista e romancista alagoano


OS UTENSÍLIOS

No galpão guardamos as enxadas enferrujadas.
E lá elas esperam a morte, como os velhos nos asilos.

Esta foice não está mais afiada. Este ancinho
já não sabe limpar o cisco do pomar.

Mas não nos desfazemos de nada — é a nossa lei.
No depósito escuro onde repousam escorpiões
está até a chave que não abre nenhuma porta.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

A FERRARI E A VASSOURA

por Enzo Carlo Barrocco








Massa: vassoura e tecnologia


Domingo retrasado, dia 13 de maio, por ocasião do Grande Prêmio da Espanha de Fórmula 1, no circuito de Barcelona, em um dos pit stop do piloto brasileiro Felipe Massa (São Paulo 1981), da Ferrari, os dois integrantes da equipe responsáveis pelo abastecimento, deixaram cair combustível na carenagem do carro que, evidentemente, aquece com o decorrer da prova, fazendo com que essa parte do carro pegasse fogo sem maiores conseqüências tanto para o carro quanto para o piloto, mesmo porque a velocidade apaga esse fogo sem maiores problemas, o que realmente aconteceu, inclusive, como sabido por todos, Massa veio a ganhar a corrida naquele dia. Pois bem. Dois mecânicos foram designados para colocar uma espécie de cal sobre o combustível derramado no piso em frente ao box para não trazer maiores problemas em outras possíveis paradas tanto de Massa quanto do seu companheiro de equipe, o finlandês Kimi Raikkonen (Espoo 1979). Neste ponto a televisão foi muito feliz em mostrar uma cena inusitada: um dos mecânicos com uma vassoura apareceu limpando o pó colocado para enxugar o combustível derramado. O fato é que em meio a tanta tecnologia, a parafernálias moderníssimas e a ferramentas de última geração, a velha e inestimável vassoura rouba a cena mostrando, explicitamente, que o complexo não pode, de maneira alguma, viver desgarrado do simples.


Foto 2: Massa no pódio em Barcelona

quarta-feira, 16 de maio de 2007

sexta-feira, 11 de maio de 2007

FLORES DE TRACUATEUA - Canto nº 1







O LUAR DO SERTÃO ILUMINANDO A POÉTICA DE CATULO DA PAIXÃO CEARENSE





Catulo da Paixão Cearense
(São Luiz 1863 - Rio de Janeiro 1946)
Poeta e compositor maranhense

O Milagre de São João”

E agora eu peço a sa dona,
que é muié civilizada,
que é muié de inducação,
pelo que não arrepare
na minha comparação .

As caderas de Joaninha
tava sadia istufada,
como uma pedra encalhada
na beira de um riachão,
que as água que vai passando,
vai, aos poucos arrendondando
inchando, que nem balão,
inté ficá tão redonda
como as anquinhas macia
de uma bonita nuvia,
que ainda fica assustada,
vendo um touro, um barbatão.

O DIÁRIO DOS PENSADORES - PÁGINA 1

Limpeza não pressagia civilização, decorre dela.
- Alexandre Dumas, Pai (Villers-Cotterêts 1802 - Puys, próximo de Dieppe 1870) romancista e dramaturgo francês

Ninguém deve pensar que sentimento é tudo. A arte não é outra
coisa além da forma.
- Gustave Flaubert (Rouen 1821 – Croisset 1880) romancista francês

A glória póstuma é um sonho da vida que não alcança os mortos.
- Mariano José Pereira da Fonseca, o Marquês de Maricá (Rio de Janeiro 1773 - Idem 1848) filósofo e matemático fluminense

Os espertos perguntam quando não sabem e, às vezes, quando sabem.
- Malcolm S. Forbes (Englewood 1919 - Far Hills 1990) empresário americano

Não encontro defeitos. Encontro soluções. Qualquer um sabe queixar-se.
- Henry Ford (Greenfield 1863 - Dearborn 1947) industrial e cientista americano, o inventor do automóvel.

A riqueza é um dos fins para se viver feliz. Os homens transformam-na no único fim.
- Anatole France (Paris 1844 - Saint-Cyr-sur-Loire 1924) romancista francês

O homem é um pequeno mundo.
- Aristóteles (Estagira 384 –Eubéia 322 a C.) filósofo grego.

Não quero ser gênio... Já tenho problemas suficientes tentando ser um homem.
- Albert Camus (Mondovi 1913 – Villeblevin, França 1960) romancista, dramaturgo, ensaísta e jornalista francês, nascido na Argélia.

Nosso grande trabalho na vida não é ver o que se encontra obscuro à distância, mas no que está claramente à mão.
- Thomas Carlyle (Ecclefechan 1795 – Londres 1881) historiador, jornalista e filósofo escocês.

Eu percebi claramente que várias vezes eu tenho uma opinião quando me deito e outra opinião quando me levanto. Especialmente quando eu como pouco e estou cansado.
- Georg Lichtenberg (Oberramstadt bei Darmstadt 1742 - Göttingen 1799) filósofo alemão

O humorismo coloca o mundo antes da vida, a vida antes do homem, o respeito aos outros antes do amor-próprio.
- Claude Lèvi-Strauss (Bruxelas 1908) antropólogo francês nascido na Bélgica

Foto da Página: Alexandre Dumas, pai

quinta-feira, 10 de maio de 2007

A MELANCOLIA NOS VERSOS DE ADALGISA NERY

Poesia entre o cais e o hospital



Adalgisa Nery
(Rio de Janeiro 1905 – Idem 1980)
Poeta, contista, cronista, romancista e política fluminense



Geme no cais o navio cargueiro
No hospital ao lado, o homem enfermo.
O vento da noite recolhe gemidos
Une angústias do mundo ermo.
Maresia transborda do mar em cansaço,
Odor de remédios inunda o espaço.
Máquina e homem, ambos exaustos
Um, pela carga que pesa em seu bojo
Outro, na dor tomando o seu corpo.
Cais, hospital: Portos de espera
E começo de fim da longa viagem.
Chaminés de cargueiros gritando no mar,
Garganta do homem em gemidos no ar.
No fundo, o universo,
O mar infinito,
O céu infinito,
O espírito infinito.
Neblinados em tristezas e medos
Surgem silêncios entre os rochedos.
Chaminés de cargueiros gritando no mar
E a garganta do homem em gemidos no ar.

GRÃO E CORISCO

quarta-feira, 9 de maio de 2007

MÁRIO QUINTANA: SIMPLESMENTE POESIA


por Enzo Carlo Barrocco

Mário de Miranda Quintana, poeta, contista e jornalista gaúcho (Alegrete 1906 – Porto Alegre 1994) aprendeu a ler aos sete anos de idade, auxiliado pelos pais. A sua cartilha era o jornal Correio do Povo. Seus pais também o ensinaram rudimentos de francês. Em 1919 Quintana foi internado no colégio militar de Porto Alegre. Por esse tempo começou a produzir os seus primeiros trabalhos que foram publicados na Revista Hyloea, que pertencia à sociedade cívica e literária dos alunos do colégio. Em 1924 deixou o colégio militar e no ano seguinte retornou a Alegrete quando começou a trabalhar na farmácia de seu pai. Em 1934 saiu a primeira publicação de uma tradução de sua autoria: “Palavras e Sangue”, do poeta, novelista, crítico literário e jornalista italiano Giovanni Papini (Florença 1881 - Idem 1956). Começa então a traduzir para a Editora Globo. Em 1939, o romancista paulista Monteiro Lobato (Taubaté 1882 – São Paulo 1948), lê alguns quartetos do poeta e escreve-lhe recomendando um livro. Em 1943 começa a publicar o “Do Caderno H”, espaço diário na revista Província de São Pedro. Em 25 de agosto de 1966, para comemorar os 60 anos, o poeta é saudado na Academia Brasileira de Letras pelo poeta e ensaísta gaúcho Augusto Meyer (Porto Alegre 1902 - Idem 1976) e pelo poeta pernambucano Manuel Bandeira (Recife 1886 – Rio de Janeiro 1968). A poesia de Quintana é de uma doçura ímpar. A pureza e a simplicidade são as marcas principais do poeta. Também na prosa se mostrava excepcional. Quintana era a poesia sempre. O poeta execrava a longuidão, pois como ele dizia, a síntese era o que ele mais adorava. Dono de um fino humor, Quintana é, na realidade, um dos cinco maiores poetas brasileiros. Nunca foi preocupado com relação à critica. Imortal sem ter sido “imortalizado” visto que por três vezes se candidatou à Academia Brasileira de Letras sem obter êxito. Quintana é o poeta das coisas simples. Obras Principais: A Rua dos Cataventos (1940), Canções (1945), Sapato Florido (1947), Espelho Mágico (1948), O Aprendiz de Feiticeiro (1950), Poesias, 1962; Pé de Pilão (1968), Apontamentos de História Sobrenatural (1976), A Vaca e o Hipogrifo (1977), Prosa e Verso (1978), Nova Antologia Poética (1982), Batalhão das Letras (1984), Baú de Espantos (1986), Preparativos de viagem (1987). Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Quintana.

CANÇÃO DE OUTONO

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...

Partir, ó alma, que dizes?
Colhe as horas, em suma...
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte alguma!


RECORDO AINDA

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...


O QUE CHEGOU DE OUTROS MUNDOS

Tenho uma cadeira de espaldar muito alto
Para o visitante noturno
E enquanto levemente balanço entre uma e outra vaga de sono,
Ei-lo
O que chegou de outros mundos...

Ali sentado e sem um movimento.

Talvez me olhe como a forma já ultrapassada (que tudo o seu espanto e imobilidade pode dizer).
E eu então - ele ainda deve estar ali! -
Levanto-me e vou cumprindo
Todos os meus rituais.
Todos os estranhos rituais de minha condição e espécie.
Religiosamente.
Cheio de humildade e orgulho.

PÁSSAROS DO ANOURÁ - Poetrix - 2ª Tríade







A POESIA PURA E SEM MISTURA DE PATATIVA DO ASSARÉ






O BURRO


PATATIVA DO ASSARÉ

(Assaré 1909 - Idem 2002)

Poeta Cearense


Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.

Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.

Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,

É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.

ALVARENGA PEIXOTO: O POETA INCONFIDENTE

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro 1744 – Ambaca, Angola 1793), estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janei...